[Clipping] Microempreendedores da ‘Bomba’ usam site de financiamento colaboativo para captar recursos

Fonte: G1/PE

Marcos Honório da Silva, 42 anos, é dono de uma pequena loja de aves e ração em uma das principais avenidas do bairro da Mangabeira, na Zona Norte do Recife. Fatura de R$ 900 a R$ 1.200 por mês. Como quer expandir o negócio, precisou aprender o significado da palavra “crowdfunding”. Marcos é um dos cinco microempreendedores da região da Bomba do Hemetério que estreou no site Impulso, lançado este mês. Através do projeto, ele pode convidar pessoas de qualquer parte do mundo para investirem – de R$ 10 a R$ 1.000 – na ideia dele. Caso consiga captar 70% dos R$ 3.000 que pretende, o complemento está prometido pela organização que criou o projeto, o Instituto Walmart.

(Nesta série de reportagens, o G1 mostra o impacto da criatividade e do empreendedorismo no desenvolvimento de uma localidade auto-sustentável. A Bomba do Hemetério foi tomada como personagem por sua diversidade e representatividade cultural no cenário recifense).

Esse processo de arrecadação de recursos, o crowdfunding, nasceu entre fãs que queriam trazer para sua cidade shows das bandas que curtiam. Lançavam a ideia na internet e os demais interessados compravam o ingresso, garantindo o show. O site Impulso – criado pela Organização Não Governamental (ONG) Aliança Empreendedora, de Curitiba (PR), adaptou a ideia para pequenos empreendedores. Dos 12 projetos lançados, cinco foram bem sucedidos, captando um total de R$ 37.736. “Nossa taxa de sucesso é de 41,65%, a mesma dos grandes portais de crowdfunding”, afirma a diretora de comunicação da Aliança Empreendedora, Luísa Bonin. Segundo ela, a Aliança atua em Curitiba, São Paulo, Recife e Salvador (BA) e tem sua metodologia de trabalho replicada por 31 organizações brasileiras, em 12 estados.

O caso da Bomba do Hemetério é diferente porque foi adaptado a um território específico – a área conhecida como “Bomba estendida”. Para participar do projeto, os microempreendedores devem ter um CEP da Bomba ou de um dos bairros vizinhos, como Linha do Tiro, Alto do Pascoal, alguns trechos da Mangabeira, e outros do Morro da Conceição.

Antes de abrir a loja, Marcos, o dono do pet shop, passou 15 anos indo de bicicleta em feiras de troca de vários bairros do Grande Recife, como Cavaleiro, Cordeiro e Beberibe, para vender bebedouros e rações. Daí conseguiu juntar o capital para alugar o espaço onde montou a Mangabeira Rações. “Eu mesmo catei essas tábuas, pintei, montei as prateleiras, cuido do estoque, faço tudo sozinho”, conta. Pensando grande, ele também comprou uma máquina, de segunda mão, que tritura grãos e já começa a fabricar alguns dos produtos que vende. Sempre que tem algum curso na comunidade, se inscreve. “Já fiz um de ensinamentos para investir e participei de um seminário que mostra como obter recursos para financiamentos”, diz Marcos, que desde menino gosta de criar passarinhos.

Outros dois empreendedores entraram no site Impulso junto com Marcos. Um deles é Antônio Francisco do Nascimento, morador da Bomba do Hemetério que fabrica em casa trufas, bombons e alfajores – de 40 a 100 unidades por mês – e vende de porta em porta, a pé. Antônio conta com a ajuda da irmã para fazer os doces e, juntos, eles faturam entre R$ 300 e R$ 400 por mês. A meta é captar R$ 1.200 para comprar uma balança eletrônica por R$ 800, que vai evitar desperdício de matéria-prima, e usar o restante do dinheiro para comprar ingredientes e material de trabalho. “Quando faço os chocolates estou descansando. O que cansa é vender”, afirma. E para convencer os investidores? “Já tenho perfil no Facebook e e-mail. Vou gravar o vídeo explicando que quem investir vai ajudar uma pessoa a conseguir realizar um sonho”, argumenta.

A terceira empreendedora é a cabeleireira Silvia Moura, que abriu a Cia de Beleza e agora quer captar R$ 2.600 para instalar uma grade de segurança, uma porta de vidro e um ar-condicionado no salão. “Pode ser tudo de segunda mão, mas fazer escova nas clientes com esse calor não tem quem aguente”, afirma. Silvia tem três filhos – de 20, 7 e 5 anos – e trabalha junto com a mãe no salão. Fatura entre R$ 800 e R$ 1.000 por mês. “Na minha área, o custo de tudo é muito alto e quando você trabalha no subúrbio tem que cobrar de acordo com renda do local”, explica Silvia. Com quase vinte anos de experiência na profissão, ela finalmente conseguiu ter o próprio negócio, e no bairro onde cresceu e mora até hoje. “Isso aqui é um grande sonho”, confessa.

Para convencer os empreendedores da Bomba a entrarem no Impulso, o primeiro passo foi chamar a Anuncicleta. Um dos principais veículos de comunicação do bairro, “Seu Jáder” circula de bicicleta distribuindo panfletos e contando as novidades, e divulgou a palestra que mostraria como conseguir renda e investimento para micro e pequenos empreendedores. Silvia, Antônio e Marcos se inscreveram e foram ouvir a proposta.

Qualificação
O indiano Muhammad Yunus ganhou o prêmio Nobel da Paz em 2006 por criar o Grameen Bank, que oferece microcrédito para milhões de famílias em seu país. Assim como na Índia, a Bomba do Hemetério também começa com uma ajuda – da Walmart – mas a ideia é que o “padrinho” saia de cena o mais rápido possível e os primeiros empreendedores a captar recursos dessa maneira ajudem os próximos a captar sozinhos, como explica Adriana Franco, gestora do Bombando Cidadania – o projeto social do Instituto Walmart na Bomba.

“A grande vantagem do crowdfunding é que quantos empreendimentos quiserem entrar vão poder. E tem um universo grande para isso na Bomba”, relata. O projeto que Adriana gerencia tem quase cinco anos e envolve 50 mil moradores da região – até hoje, cerca de 1.200 pessoas foram beneficiadas pelas ações, como palestras, qualificações, contratação de assessorias e desenvolvimento de plano de negócios.

A primeira ação do Instituto na área foi desenvolver o senso empreendedor das pessoas – incluindo os responsáveis por grupos culturais e terreiros de candomblé. “Eles precisavam ver que aquela organização era uma empresa e poderia gerar renda, não tinha nenhum choque com cultura ou religião. Podia ser um produto turístico, desenvolver um serviço, oferecer suvenires”, afirma. Além da Aliança Empreendedora, o Sebrae, o Ministério do Turismo e o Centro Pernambucano de Design foram parceiros em capacitações e consultorias. “Com o crowdfunding é como se eles fossem ‘desencubar’. Ganham uma plataforma maior, autogerenciável, mas que precisa da mobilização das pessoas para acontecer”, explica Adriana.

A lógica agora é chamar o público para ser impulsionador desse microempreededorismo. O Instituto Walmart também vai ajudar na divulgação do projeto. “A gente vai mostrar às pessoas as vantagens de apoiarem pequenos negócios. Gera emprego, renda e crescimento territorial. Além disso, tem as recompensas que cada projeto dá”, explica Adriana. As recompensas são ações simpáticas a ser combinadas com os microempreendedores. Por exemplo, a proposta de uma marmiteira era enviar um caderno de receitas manuscrito para quem doasse a partir de R$ 100, como sinal de agradecimento.

Como funciona
Os participantes do Impulso gravam um vídeo contando sua história, seu sonho. Recebem assessoria para formatar o projeto e uma comissão avalia os projetos. Depois de cadastrado no site, cada um usa seus contatos e redes sociais para convocar os impulsionadores. “Mais do que estar dando o peixe, a gente está dando condições de a pessoa pescar bastante e ainda compartilhar o peixe. Eu posso continuar doando para o hospital, a instituição de caridade, mas também ajudar um pequeno empreendimento comunitário”, compara Adriana.

Há cotas de R$ 10 até R$ 1.000 e o maior valor que cada empreendedor pode captar é R$ 3.000. Caso ele não consiga arrecadar o valor desejado, o impulsionador pode redirecionar a doação para outro projeto ou receber o dinheiro de volta – o pagamento pode ser feito com cartão de crédito, boleto ou transferência bancária. Quem abre o site vê a percentagem de captação de cada empresa e, como impulsionador, pode convidar outras pessoas para doar. “Durante um ano vai ser um canal patrocinado e imaginamos fazer pelo menos 7 a 10 projetos nesse primeiro ano”, explica Adriana. “Da nossa parte, nossos 88 mil associados [funcionários] do Brasil conhecem a Bomba do Hemetério porque tiveram contato com o programa. A gente vai fazer uma comunicação interna informando que podem ser impulsionadores”, afirma.

“No caso da Bomba do Hemetério, nosso maior desafio é fazer eles entenderem o processo do crowdfunding e usarem as ferramentas de mobilização online, mas a rede deles é offline. Às vezes as pessoas que eles conhecem não têm acesso à internet”, reconhece Luísa Bonin, da Aliança Empreendedora. Ela ressalta que a comunidade vai receber assessoria do início ao fim. “Vamos montar um planejamento estratégico, fazer divulgação e pensar em recompensas criativas para os impulsionadores”, assegura.

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Ascom/IADH

Assessoria de Comunicação do IADH - Instituto de Assessoria para o Desenvolvimento Humano, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) que tem como missão “Desenvolver capacidades de pessoas e organizações em estratégias e processos de desenvolvimento local sustentável".

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